Tecnologia, adaptação e inovação foram os principais assuntos do último dia de Web Summit

Empresas tradicionais, como Burberry e Levi’s compartilharam como estavam usando as novas ferramentas para se manterem relevantes no mercado

Por Sinara Vasconcelos, direto do Web Summit

“O comportamento não mente”.  A frase de David Kidder, fundador e CEO da Bionic, resume bem o sentimento que ficou após o último dia de Web Summit. A frente de uma empresa cujo propósito é proporcionar o crescimento de corporações através da revolução, ele deixou claro que o planeta está passando por um processo disruptivo e que as empresas precisam criar soluções para o mundo que está por vir, não para o que já foi.

Essa mudança de comportamento também foi pontuada pelo experiente analista Benedict Evans, que afirmou que a tecnologia está deixando de ser usada somente por “homens brancos de terno” para virar algo mainstream, ou seja, à disposição de todos.

Se já estamos vivendo a era da tecnologia convencional ou não está aberto para debate, mas o fato é que muitas indústrias que não costumavam lidar bem com novidades, como a do mercado das roupas de luxo, certamente se viram motivadas, ou até mesmo obrigadas, a pensar em alternativas tecnológicas para se manterem relevantes.

Foi o caso da britânica Burberry, que criou uma campanha de lançamento com imagens completamente geradas por computação gráfica e realizou o primeiro desfile de uma marca de luxo a ser transmitido na famosa plataforma de live streaming Twitch. O Vice-Presidente Sênior de Digital da empresa, Mark Morris, declarou que o luxo não tem mais a ver somente com exclusividade, mas com a relação pessoal que as pessoas desenvolvem com a marca, pontuando que outras estratégias, como o uso de realidade aumentada, QR Codes e a gameficação do processo de compra também vêm sendo usadas para manter o relacionamento com o cliente.

Ele destacou, ainda, que um dos principais objetivos da Burberry é usar a tecnologia para se tornar mais sustentável e que a sustentabilidade é algo que precisa estar na política corporativa da empresa, no DNA do produto e do propósito da marca. “Não é mais uma questão de vantagem competitiva, todas as marcas precisam abraçar esse desafio. O consumidor está cobrando e a indústria precisa entregar”, declarou.

Para o CEO da Levi Strauss & Co, Chip Bergh, tecnologia e sustentabilidade também foram as chaves para salvar a empresa da ruína, depois de uma queda de 62% nas vendas e um prejuízo de 322 milhões de euros entre março e maio deste ano. “Foi o momento mais importante da minha carreira em dez anos de empresa. Não apenas sobreviver, mas fortalecer a marca em meio à crise”, desabafou.

Usando inteligência artificial e a ciência de dados, a Levi’s percebeu que existia uma grande demanda pelos jeans usados da marca nos brechós americanos, um mercado que movimenta mais de U$ 30 bilhões por ano em todo o mundo e que deve dobrar de valor em cinco anos.

Aproveitando a demanda existente, a empresa lançou o “Levi’s Second Hand”, um projeto onde as pessoas podem levar seus Levi’s antigos e trocar por crédito na loja. A peça, então, é lavada, reparada e colocada à venda por um preço bem abaixo do padrão.

Bergh também ressaltou que a empresa está usando a tecnologia para diminuir o trabalho braçal, eliminar os resíduos químicos dos tecidos e aumentar a sua capacidade digital, sendo este último ponto a prioridade máxima, já que o e-commerce é responsável por 25% do faturamento da marca atualmente.

Já em um mercado diferente, o dos influenciadores digitais, a inteligência artificial vem sendo utilizada para ajudar as marcas a encontrarem a escolha ideal para as suas campanhas. Casper Lee, um dos co-founders da plataforma Influencer, afirmou que eles usam o IBM Watson para cruzar dados entre os interesses dos influenciadores e o propósito da empresa.

Lee, que também é um digital influencer com mais de dez anos de carreira, explicou que é cada vez mais necessário encontrar alguém que de fato reflita a mensagem da marca ao mesmo tempo em que mantém a autenticidade.

Do ponto de vista mais estratégico, o seu sócio, Ben Jeffries, pontuou que o erro de muitas empresas é apostar todas as fichas em um influenciador. “Não invista todo o seu dinheiro em influenciadores. Eles são um complemento que precisa ser trabalhado junto com o resto da estratégia. Além disso, é preciso um influenciador que influencie de verdade e não apenas aumente as curtidas e os comentários”, criticou.

Para ele, muitas vezes faz mais sentido contratar vários microinfluenciadores que entregam resultados dentro dos seus nichos, que um macroinfluenciador que não dialoga diretamente com o público-alvo, já que a estratégia funciona como uma espécie de boca a boca digital. “Ao invés de ouvir de somente um influenciador gigante, a pessoa vai ouvir de vários influenciadores que ela respeita. Não é sobre ter um milhão de seguidores. É sobre fazer o público entender a mensagem, executar ações e descer no funil de marketing”, finalizou.

Além de grandes nomes da tecnologia e da comunicação, o último dia de Web Summit também contou com a participação de personalidades como a ativista Malala Yousafzai e o ator Chris Evans, que interpreta o Capitão América, e desenvolveu uma plataforma onde políticos americanos podem gravar vídeos explicando diversos temas complexos para o público. A ideia é facilitar o acesso à informação e incentivar o engajamento cívico da população.

SOBRE O EVENTO: O Web Summit é a maior conferência de tecnologia do mundo, reunindo mais de 1.100 palestrantes, mais de 2.000 startups e mais de 104.000 participantes de 160 países. Este ano, devido a pandemia do novo Coronavírus, o evento foi transmitido ao vivo direto de Lisboa, no coração de Portugal, e abordou temas como ciência de dados, design, sustentabilidade e os desafios da indústria para o futuro.